quinta-feira, 21 de abril de 2011

LOCUS – ESTREIA EM ALEGRE



Nesse sábado, 23 de abril, às 21 horas, o Teatro Municipal de Alegre “Virgínia Santos” acolherá o lançamento do documentário LOCUS gravado na mesma cidade. Os habitantes poderão se ver na tela e acompanhar algumas histórias de suas figuras populares: Banana, Luciano, Carioca e Zezé Fumaça. As questões envolvendo esses personagens são debatidas pela população, especialistas, autoridades públicas e representantes de instituições envolvidas na problemática. Com 26 minutos de duração a narrativa demonstra a importância do papel desempenhado por essas figuras populares no imaginário alegrense, exercendo uma influência fundamental na vida cotidiana dos habitantes.

E depois da estreia, venha curtir um rock legal na Boate do Comercial Clube a partir das 23h. Além de DJ’s e cerveja gelada, a festa de lançamento terá shows com as bandas Os Terríveis (cover de Roberto Carlos), Chico Cuíca Sound System (responsável pela trilha sonora do documentário) e Grupo Porco de Grindcore Interpretativo (de BH).

AGENDA:

23/04/2011 – Lançamento do documentário Locus no Teatro Municipal de Alegre. A partir das 21h. Entrada Franca.

E às 23h – Festa de Lançamento do documentário Locus na Boate do Comercial Clube. Com as bandas: Os TerríveisChico Cuíca Sound System e Grupo Porco de Grindcore Interpretativo.
Classificação 16 anos. Entrada R$5,00.

Sinopse:
Locus, documentário gravado em Alegre-ES, aborda a problemática da convivência com a loucura no espaço público através de um passeio de estranhamento pela cidade. Com depoimentos de moradores, psicólogos, especialistas, autoridades policiais e municipais, a narrativa propõe um debate sobre o imaginário do que é loucura e de quem é o louco em Alegre. A cultura local e as relações sociais da vida cotidiana alegrense são retratadas por meio da perspectiva aberta pelos protagonistas do filme, figuras populares, que mesmo vistas como metáforas de alteridade e loucura, são necessárias para o convívio “normal” na cidade.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

LOCUS – O ACASO



A produção documental obedece uma dialética de “planejamento do inesperado”: a história é fundada em aspectos conhecidos, previsíveis o bastante para serem organizados em um roteiro e planejados durante a pré-produção, quase como uma produção de vídeos ficcionais. Nesse quesito se inserem as entrevistas e pré-entrevistas agendadas, as imagens de apoio imaginadas, a localização de registros históricos, a cobertura dos eventos oficiais e do cotidiano rotineiro da cidade. Embora a programação desses fatos apele para um método ficcionalizante, é necessário fazer isso para mobilizar e estimular os efeitos do acaso.


Desfile escolar
Não só os personagens precisam ajudar a forjar o real, já que são solicitados a responder ou a fazer alguma coisa ditada pelos produtores; os eventos sociais e o dia-a-dia de Alegre precisam atuar sobre a produção para que o inesperado apareça e leve o registro a um patamar testemunhal. Para cumprir tal exigência documental procuramos flagrar as ações que os fenômenos da cidade apresentavam: na festa de Alegre, em agosto, conseguimos captar inúmeras surpresas que apareceram em meio às gravações programadas, seja nos brinquedos e barraquinhas do parque de diversões, no rodeio e nas baias dos animais em exposição, no desfile de rua das escolas e instituições municipais, na procissão e missa para Nossa Senhora da Penha. Em cada dia agendado para a produção ocorreram situações que não podíamos prever durante a pré-produção.

Finados
Isso também ocorreu durante a cobertura das eleições 2010, quando pudemos acompanhar um percurso agendado com os personagens e encontrar um desfecho completamente distante do que havíamos planejado – e que acabou se tornando mais importante para o documentário do que aquilo que havíamos meramente assumido. Até mesmo o dia de Finados deu margem para a aparição do acaso, pois a cobertura das pessoas visitando seus familiares perdeu espaço frente ao surgimento de novos traços em um personagem já falecido (Zezé Fumaça). Ainda que esses eventos sejam extraordinários e por isso contribuam para o pronunciamento do inesperado, a própria rotina alegrense é fértil para sofrer a influência do real.

Final do desfile escolar
A linguagem documental é naturalmente híbrida, composta por artifícios técnicos e convenções videográficas que facilitam a recepção da narrativa e, além disso, pela sistematização do acaso. Locus é formado por imagens que foram previamente criadas e por outras que só submetendo-se aos caprichos da sorte e do infortúnio poderiam existir. De outra maneira seria impossível passar a impressão de realidade que determina o grau de proximidade e identificação narrativa do documentário.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

LOCUS – O TRAILER



Pode parecer confuso à primeira vista, mas o trailer do Locus resume bem o estilo narrativo adotado: como falar sobre loucura sem mostrar isso na linguagem? Não interessava compor a narrativa com várias cabeças-falantes posicionando, cada um a seu modo, suas idéias. Queríamos construir um discurso multilateral, formado por uma malha tecida por depoimentos, sons ambientais, músicas, ações, imagens de apoio e de arquivo, sempre buscando um movimento quase ininterrupto das imagens.


Banana passeando pelas ruas
Tanto a condução verbal quanto a visual tentam levar o receptor a encarar um mundo desconhecido, adentrar em uma atmosfera de estranhamento. As ações dos personagens são alternadas com imagens desconexas que muitas vezes adicionam sentido aos depoimentos, e outras vezes produzem incoerências discursivas através do choque de valores antagônicos entre o verbal e o visual. A estética empreendida em Locus faz de Alegre um local específico para abrigar seus personagens, um lugar onde a diferença mora. Tal linguagem acrescenta dinamismo ao ritmo documental e ainda modulo emoções diversas catalisadas através de um discurso pluralizado e intertextual.

Não é fácil tratar de um tema que ainda não é bem mapeado pelo ser humano, principalmente se a forma documental não incorporar o assunto narrado. Para evitar que o debate ficasse raso ou unilateral, preferimos tentar transubstanciar o conteúdo narrado na forma narrativa e talvez gerar uma confusão audiovisual que pelo menos se aproximasse da densidade de um surto esquizofrênico sem, com isso, ofuscar uma argumentação que não foge da lógica.

terça-feira, 5 de abril de 2011

LOCUS - O RELEASE


O documentário Locus, contemplado pelo Fundo de Cultura da Secretaria de Estado da Cultura do Espírito Santo (SECULT) em 2010, será lançado no dia 23 de Abril no Teatro Municipal de Alegre-ES a partir das 21h com entrada franca. Realizado por Klaus’Berg, Raul Chequer e Francisco Filho, jovens produtores audiovisuais do estado, o documentário aborda questões sobre as relações sociais entre os habitantes de Alegre e seus diferentes. Para isso, os documentaristas ouviram tanto a população, quanto especialistas, autoridades e representantes de instituições envolvidas na problemática.

Banana durante as eleições 2010
Com 26 minutos de duração, o filme narra pequenas histórias sobre a convivência com loucura na cidade de Alegre, município sul capixaba com cerca de 30 mil habitantes. Alegre é o palco que abriga os personagens sociais do documentário: pessoas que são muitas vezes vistas pela população como loucas, diferentes ou excêntricas, e que por isso mesmo fazem parte da cultura local. Entre seus personagens principais destacam-se Luiz Cláudio Dias (o popular “Banana”) e Luciano André, ambos acompanhados pelas câmeras da produção em suas casas, nas festas e eventos sociais da cidade, e até mesmo durante as eleições de 2010. Uma das preocupações da narrativa foi demonstrar a importância do papel desempenhado por essas figuras populares no imaginário alegrense, exercendo uma influência fundamental na vida cotidiana dos habitantes.

Luciano André na festa de Alegre
Após a estréia no Teatro, os produtores realizarão a festa de lançamento na Boate do Comercial Clube em Alegre a partir das 23h, com as bandas Chico Cuíca Sound System (responsável pela trilha sonora do documentário) e Os Terríveis (cover de Roberto Carlos). O documentário Locus também será exibido em Cachoeiro de Itapemirim (no Cine Ritz Sul) e ainda em Vitória com duas apresentações: no Cine Jardins (Shopping Jardins) e no Cine Metrópolis (Centro de Vivência da UFES).

AGENDA:

23/04/2011 – Lançamento do documentário Locus no Teatro Municipal de Alegre. A partir das 21h. Entrada Franca.

23/04/2011 – Festa de Lançamento do documentário Locus na Boate do Comercial Clube. A partir das 23h com as bandas Chico Cuíca Sound System e Os Terríveis. Classificação 16 anos.

01/05/2011 - Lançamento do documentário Locus no Cine Ritz Sul (Shopping Sul, Cachoeiro de Itapemirim). A partir das 16h. Entrada Franca.

06/05/2011 - Lançamento do documentário Locus no Cine Jardins (Shopping Jardins, Jardim da Penha, Vitória). A partir das 21h.

20/05/2011 - Lançamento do documentário Locus no Cine Metrópolis (Centro de Vivência da UFES, Goiabeiras, Vitória). A partir das 21h.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

LOCUS – O MUNDO NARRATIVO


Estudo de locação:
Plano Geral de Alegre
Nostalgia é um tipo de sentimento de pertença que geralmente abate com mais força o indivíduo que se ausenta de seu local original por determinado tempo, e ao retornar se depara com suas imagens do passado, refletidas também na arquitetura e no urbanismo daquele lugar. Em nosso caso, esse tipo de nostalgia caracterizou o retorno ao município em que crescemos, e ficou ainda mais marcante porque estávamos ali para investigar e registrar os aspectos daquele pequeno mundo que fossem interessantes o bastante para se transformar em linguagem audiovisual.

Estudo de locação:
Igreja Matriz de Alegre
A ambientação narrativa obedece uma lógica de manipulação do espaço com vistas a configurar um piso e um teto para as ações dos personagens e, além disso, colocar o receptor dentro do mundo documental – de fato, o mundo real e o mundo documental não são os mesmos, ainda que o mundo documental seja parasitário de pressupostos do mundo real, é praticamente impossível refletir todas as inúmeras facetas do real dentro do documentário. É, portanto, um trabalho de reorganização do espaço narrativo, sempre com vistas a abarcar as personalidades dos personagens oferecendo assim certa nuance ou informação extra de seus comportamentos.

O bucolismo do interior
Alegre tem sua rotina, um cotidiano marcado pelo ordinário bucólico das cidadezinhas de interior, e isso interessava ser reproduzido, bem como os fatos e eventos que fogem do dia-a-dia e se tornam fenômenos extraordinários para os habitantes acostumados com a normalidade rotineira do local. Se é pelo comum que a cidade se caracteriza, é pelo incomum que ela se singulariza: festas e comemorações religiosas, políticas e comerciais mexem com a população e trazem novos comportamentos e relações interessantes para mostrar a vivência e o fluxo social da cidade. Nossas tentativas de produção testemunhal se incrementavam durante a cobertura desses fatos e forneciam matéria de antagonismo para a cobertura da “mesmice” alegrense.

Imagem animada de Jesus durante
o rodeio e a festa de Alegre
Nosso retorno foi uma redescoberta, uma maneira de enxergar nossa cidade como ainda não havíamos conseguido antes. Procurar em suas ruas, praças, prédios, casas e comércios os elementos que comporiam o mobiliário narrativo adequado a sustentar os relatos dos personagens, suas ações e sentimentos. Desse modo pudemos fazer Alegre ser um personagem tão importante quanto os que abrigava em seus espaços públicos. Enquanto palco de convivência com o Outro, a cidade mostrou as justificativas para ser o mundo delimitado na narrativa e determinou o nível de atrelamento ao tema do documentário – como se não pudesse existir outro ambiente para comportar os personagens e a trama discursiva do filme.

Cavalo adestrado no rodeio
Nostalgia deve ser isso: fazer de lembranças passadas a porta de percepção para encontrar o presente, permitindo diluir o que o imaginário guardou na composição do registro atual. Nossas memórias nos levaram à Alegre e lá pudemos reestruturar narrativamente o que seria apenas uma imagem distorcida de um passado desfocado pela ausência.
 
Estudo de locação: Plano Geral de Alegre


LOCUS – OS PERSONAGENS

O escritor e historiador Marcos Oliveira na biblioteca

Banana
Documentar um “assunto” às vezes exibe a dificuldade em se materializar o fato discursivo no fato audiovisual. Falar sobre a convivência com a loucura era algo que não queríamos evidenciar apenas verbalmente, mas, sobretudo visualmente. Seja como for, não estávamos trabalhando com um personagem que iria desamarrar toda a narrativa – isso era impossível perante a complexidade temática pretendida pelo documentário. Devido a essa particularidade optamos por registrar diversos personagens envolvidos no assunto divididos em 3 grandes categorias funcionais.

Carioca
Os protagonistas – Esses seriam os personagens que iriam receber maior importância narrativa e maior tempo na duração do documentário. Apesar de termos algumas opções de protagonistas, decidimos nos concentrar em 4 que poderiam mostrar vários aspectos decisivos para o filme: Luiz Cláudio Dias, o popular “Banana”; Genilçon Cavalcante Furtado, o “Carioca”; Luciano André, também conhecido como “Miguim”; e o falecido Zezé Fumaça. Todos eles foram o centro da atenção narrativa e da maior parte dos depoimentos dos outros personagens, sendo que a função primordial dessa categoria era dar voz e expressão para o Outro enquanto louco.

Luciano André na entrada de sua casa

O jornalista Almyr Carvalho
Os especialistas – Entre psicólogos, jornalistas, historiadores, advogados, autoridades públicas, sanitárias e policiais, todos os depoimentos e opiniões dos especialistas posicionam os problemas e as vantagens da convivência com a diferença em Alegre. Essa categoria de personagem foi usada não apenas para aprofundar o tema, mas também para conectar o assunto narrado aos protagonistas, além de vinculá-los às peculiaridades culturais e sociais da cidade, mostrando como Alegre é diferenciada no tratamento concedido ao louco e como o imaginário local a respeito dessa situação é único.

Da esquerda para a direita, de cima para baixo: Rosane dos santos, coordena-
dora do CAPS de Alegre; Nilson Junior, Psicólogo; Paulo Cassa, Psicólogo
e Secretário Municipal de Saúde; e Coronel Anselmo Lima, na época Capitão
do 3 Batalhão da Polícia Militar


Joares Quarto ao lado da fotografia
de Zezé Fumaça

Os coadjuvantes – Para sintetizar as impressões dos habitantes alegrenses sobre o tema do documentário, usamos os depoimentos de alguns moradores, comerciantes e pessoas ligadas de alguma forma ao assunto para retratar essa impressão geral. Podemos alojar nessa categoria também as pessoas que participaram de alguns dos eventos cobertos pela produção, como a procissão de Nossa Senhora da Penha, o rodeio e a festa no parque de exposições da cidade, o dia de finados e as eleições de 2010. Esses personagens davam face para as relações estabelecidas em Alegre e mostravam como o comportamento do habitante “normal” nem sempre é diferente do comportamento do indivíduo dito “anormal”.

Cada categoria e cada personagem têm sua importância para o documentário, e a união de todas essas diversas importâncias faz com que a narrativa seja encadeada coerentemente, aglomerando informações distintas que se completam e se confrontam para resultar nas conclusões que singularizam o olhar sobre a loucura visto em Locus.

sábado, 2 de abril de 2011

LOCUS – A PRODUÇÃO



Pré-entrevista com o comerciante
Cristiano "Kibe"
Com o financiamento do Fundo de Cultura da Secretaria de Estado da Cultura do Espírito Santo – SECULT, a produção do documentário Locus iniciou-se em Agosto de 2010, estendendo-se até Dezembro do mesmo ano. Mesmo que possuíssemos uma pesquisa prévia para ajudar na lapidação do projeto contemplado pelo edital, fazia-se necessário adentrar um pouco mais o território do mundo narrativo para nos aproximar da situação e dos personagens sociais.

Da esquerda para a direita: Klaus'Berg, Raul Chequer,
Gabriel Labanca e Paulo Paraizo
A pré-produção iniciou-se com uma investigação do local e da população, o que levou diversas viagens ao Alegre conduzidas por uma equipe criativa composta por 5 pessoas: Klaus’Berg, diretor, roteirista e proponente do projeto; Francisco Filho, psicólogo, roteirista, produtor e assistente de direção; Raul Chequer, produtor, roteirista e diretor de fotografia; Paulo Paraizo, assistente de produção e assistente de câmera; e Gabriel Labanca, assistente de produção e de pesquisa.

Gravação com o Secretário Municipal
de Saúde Paulo Cassa
As pré-entrevistas com os habitantes e protagonistas do documentário foram nos indicando o rumo que a narrativa deveria tomar e, mais do que isso, apontavam quem seriam os personagens que materializariam o filme. Munidos de um caderno de produção e um gravador digital fomos conversando com diversas pessoas indicadas por outras pessoas – numa espécie de vórtice social da problemática. Esse levantamento de dados enriquecia cada vez mais o roteiro e parecia obedecer uma lógica de convívio com a diferença em Alegre, algo que importava ao registro. Porém, para cumprir as exigências do edital tivemos de terminar a pré-produção enquanto iniciávamos a produção.

O escritor Marcos Oliveira conversa
com o produtor Francisco Filho
Durante as gravações pudemos realmente assistir aos eventos culturais e sociais da cidade, ainda mais porque boa parte da equipe tinha e tem vínculos com Alegre, mas parece que precisamos sair de lá para conseguir enxergar suas peculiaridades. Pelo visto, algumas impressões só podem ser causadas através do retorno, pois o que aparentemente era comum, após um afastamento pode se mostrar extraordinário. Com duas câmeras HDV, um tripé, uma lente olho de peixe, um microfone de lapela, um microfone boom e uma pampa emprestada, passamos quatro meses gravando inúmeros fatos, acompanhando vários personagens e pessoas ligadas à questão.

Gravação com o Psicólogo
Nilson Júnior
Em momento algum escondemos dos entrevistados e dos habitantes os motivos ou os equipamentos de gravação. Tentamos testemunhar a vivência alegrense sem interromper o fluxo social do município. Apesar de solicitarmos uma ação ou outra para os protagonistas e termos desenvolvido questionários específicos para cada entrevistado, a maior preocupação do documentário era mostrar o dia-a-dia da cidade – ver como aquela comunidade se comportava e quais eram os resultados oriundos das relações estabelecidas entre os personagens e o problema narrativo.

Gravação com o escritor Marcos Oliveira
Da pré-produção à pós-produção, fizemos nosso Locus como se estivéssemos observando clinicamente as opiniões e o imaginário sobre a convivência com a loucura em Alegre, e embora tivéssemos ambições quanto ao produto final, deixamos que o acaso fosse a medida de todas as nossas pretensões.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

LOCUS – O PROJETO

A loucura já foi divinizada, foi sinônimo de possessão, de lucro e apenas recentemente passou ao significado de doença. Trancafiar os loucos foi uma alternativa encontrada pelos homens comuns para não conviver com a loucura. A partir da reforma psiquiátrica o Movimento Anti-manicomial se fortaleceu e passou a lutar por políticas de inclusão dos loucos na sociedade. Embora não exista um manicômio ou mesmo um movimento contra essa instituição no município de Alegre, no interior do Espírito Santo, a relação assumida com a loucura é um fenômeno experimentado na cidade já há algum tempo. 

Carioca

A narrativa procura debater o tema da loucura através dos relatos de diversas pessoas, sejam elas enquadradas como loucas ou não. Uma tentativa de desvelar a experiência que o indivíduo incomum tem a partir de sua interação com um mundo formulado por regras e pressupostos criados por indivíduos ordinários. O mundo captado no documentário é Alegre, município do sul capixaba fundado em 06 de Janeiro de 1891, com uma população de cerca de 31.700 habitantes. A cidade convive com seus diferentes nos espaços públicos, trafegados por todos que queiram por ali passar, e ainda que haja uma confluência de habitação entre os indivíduos, o louco é um convidado, simplesmente porque este espaço não foi formulado por ele.

Luciano

O documentário Locus surgiu da curiosidade sobre o convívio com a diferença e, além disso, das lembranças dos personagens que habitavam o palco da rotina alegrense: Banana, Luciano, Carioca, Zezé Fumaça, entre outros foram os condutores da narrativa que tomou quatro meses de produção. De agosto a dezembro pudemos registrar o cotidiano da cidade e alguns dos eventos que mobilizam a população, como a festa da padroeira Nossa Senhora da Penha, as eleições de 2010 e o dia de finados. A cada entrevista, a cada novo dia de gravação fomos levados a entrar no imaginário local do que seria o louco para os habitantes e como seus itinerários fazem parte da normalidade da cidade.

Banana
Telô, à direita, e Juarez Quarto, atrás, no túmulo de Zezé Fumaça