O escritor e historiador Marcos Oliveira na biblioteca |
Banana |
Documentar um “assunto” às vezes exibe a dificuldade em se materializar o fato discursivo no fato audiovisual. Falar sobre a convivência com a loucura era algo que não queríamos evidenciar apenas verbalmente, mas, sobretudo visualmente. Seja como for, não estávamos trabalhando com um personagem que iria desamarrar toda a narrativa – isso era impossível perante a complexidade temática pretendida pelo documentário. Devido a essa particularidade optamos por registrar diversos personagens envolvidos no assunto divididos em 3 grandes categorias funcionais.
Carioca |
Os protagonistas – Esses seriam os personagens que iriam receber maior importância narrativa e maior tempo na duração do documentário. Apesar de termos algumas opções de protagonistas, decidimos nos concentrar em 4 que poderiam mostrar vários aspectos decisivos para o filme: Luiz Cláudio Dias, o popular “Banana”; Genilçon Cavalcante Furtado, o “Carioca”; Luciano André, também conhecido como “Miguim”; e o falecido Zezé Fumaça. Todos eles foram o centro da atenção narrativa e da maior parte dos depoimentos dos outros personagens, sendo que a função primordial dessa categoria era dar voz e expressão para o Outro enquanto louco.
Luciano André na entrada de sua casa |
O jornalista Almyr Carvalho |
Os especialistas – Entre psicólogos, jornalistas, historiadores, advogados, autoridades públicas, sanitárias e policiais, todos os depoimentos e opiniões dos especialistas posicionam os problemas e as vantagens da convivência com a diferença em Alegre. Essa categoria de personagem foi usada não apenas para aprofundar o tema, mas também para conectar o assunto narrado aos protagonistas, além de vinculá-los às peculiaridades culturais e sociais da cidade, mostrando como Alegre é diferenciada no tratamento concedido ao louco e como o imaginário local a respeito dessa situação é único.
Joares Quarto ao lado da fotografia de Zezé Fumaça |
Os coadjuvantes – Para sintetizar as impressões dos habitantes alegrenses sobre o tema do documentário, usamos os depoimentos de alguns moradores, comerciantes e pessoas ligadas de alguma forma ao assunto para retratar essa impressão geral. Podemos alojar nessa categoria também as pessoas que participaram de alguns dos eventos cobertos pela produção, como a procissão de Nossa Senhora da Penha, o rodeio e a festa no parque de exposições da cidade, o dia de finados e as eleições de 2010. Esses personagens davam face para as relações estabelecidas em Alegre e mostravam como o comportamento do habitante “normal” nem sempre é diferente do comportamento do indivíduo dito “anormal”.
Cada categoria e cada personagem têm sua importância para o documentário, e a união de todas essas diversas importâncias faz com que a narrativa seja encadeada coerentemente, aglomerando informações distintas que se completam e se confrontam para resultar nas conclusões que singularizam o olhar sobre a loucura visto em Locus.
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