segunda-feira, 4 de abril de 2011

LOCUS – O MUNDO NARRATIVO


Estudo de locação:
Plano Geral de Alegre
Nostalgia é um tipo de sentimento de pertença que geralmente abate com mais força o indivíduo que se ausenta de seu local original por determinado tempo, e ao retornar se depara com suas imagens do passado, refletidas também na arquitetura e no urbanismo daquele lugar. Em nosso caso, esse tipo de nostalgia caracterizou o retorno ao município em que crescemos, e ficou ainda mais marcante porque estávamos ali para investigar e registrar os aspectos daquele pequeno mundo que fossem interessantes o bastante para se transformar em linguagem audiovisual.

Estudo de locação:
Igreja Matriz de Alegre
A ambientação narrativa obedece uma lógica de manipulação do espaço com vistas a configurar um piso e um teto para as ações dos personagens e, além disso, colocar o receptor dentro do mundo documental – de fato, o mundo real e o mundo documental não são os mesmos, ainda que o mundo documental seja parasitário de pressupostos do mundo real, é praticamente impossível refletir todas as inúmeras facetas do real dentro do documentário. É, portanto, um trabalho de reorganização do espaço narrativo, sempre com vistas a abarcar as personalidades dos personagens oferecendo assim certa nuance ou informação extra de seus comportamentos.

O bucolismo do interior
Alegre tem sua rotina, um cotidiano marcado pelo ordinário bucólico das cidadezinhas de interior, e isso interessava ser reproduzido, bem como os fatos e eventos que fogem do dia-a-dia e se tornam fenômenos extraordinários para os habitantes acostumados com a normalidade rotineira do local. Se é pelo comum que a cidade se caracteriza, é pelo incomum que ela se singulariza: festas e comemorações religiosas, políticas e comerciais mexem com a população e trazem novos comportamentos e relações interessantes para mostrar a vivência e o fluxo social da cidade. Nossas tentativas de produção testemunhal se incrementavam durante a cobertura desses fatos e forneciam matéria de antagonismo para a cobertura da “mesmice” alegrense.

Imagem animada de Jesus durante
o rodeio e a festa de Alegre
Nosso retorno foi uma redescoberta, uma maneira de enxergar nossa cidade como ainda não havíamos conseguido antes. Procurar em suas ruas, praças, prédios, casas e comércios os elementos que comporiam o mobiliário narrativo adequado a sustentar os relatos dos personagens, suas ações e sentimentos. Desse modo pudemos fazer Alegre ser um personagem tão importante quanto os que abrigava em seus espaços públicos. Enquanto palco de convivência com o Outro, a cidade mostrou as justificativas para ser o mundo delimitado na narrativa e determinou o nível de atrelamento ao tema do documentário – como se não pudesse existir outro ambiente para comportar os personagens e a trama discursiva do filme.

Cavalo adestrado no rodeio
Nostalgia deve ser isso: fazer de lembranças passadas a porta de percepção para encontrar o presente, permitindo diluir o que o imaginário guardou na composição do registro atual. Nossas memórias nos levaram à Alegre e lá pudemos reestruturar narrativamente o que seria apenas uma imagem distorcida de um passado desfocado pela ausência.
 
Estudo de locação: Plano Geral de Alegre


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