Pode parecer confuso à primeira vista, mas o trailer do Locus resume bem o estilo narrativo adotado: como falar sobre loucura sem mostrar isso na linguagem? Não interessava compor a narrativa com várias cabeças-falantes posicionando, cada um a seu modo, suas idéias. Queríamos construir um discurso multilateral, formado por uma malha tecida por depoimentos, sons ambientais, músicas, ações, imagens de apoio e de arquivo, sempre buscando um movimento quase ininterrupto das imagens.
Banana passeando pelas ruas |
Tanto a condução verbal quanto a visual tentam levar o receptor a encarar um mundo desconhecido, adentrar em uma atmosfera de estranhamento. As ações dos personagens são alternadas com imagens desconexas que muitas vezes adicionam sentido aos depoimentos, e outras vezes produzem incoerências discursivas através do choque de valores antagônicos entre o verbal e o visual. A estética empreendida em Locus faz de Alegre um local específico para abrigar seus personagens, um lugar onde a diferença mora. Tal linguagem acrescenta dinamismo ao ritmo documental e ainda modulo emoções diversas catalisadas através de um discurso pluralizado e intertextual.
Não é fácil tratar de um tema que ainda não é bem mapeado pelo ser humano, principalmente se a forma documental não incorporar o assunto narrado. Para evitar que o debate ficasse raso ou unilateral, preferimos tentar transubstanciar o conteúdo narrado na forma narrativa e talvez gerar uma confusão audiovisual que pelo menos se aproximasse da densidade de um surto esquizofrênico sem, com isso, ofuscar uma argumentação que não foge da lógica.
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